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Fortaleza - Ceará – Brasil

Doença de Parkinson

Doença Parkinson: uma condição neurologia com muitos desafios

Descrita há pouco mais de 200 anos pelo britânico James Parkinson, a doença homônima é um dos distúrbios de movimentos mais prevalente, e, sem dúvida, o mais difundido no imaginário popular. Essa “fama” se deve em grande parte ao quadro exuberante em que o portador tem (classicamente) tremor em repouso, dificuldade para iniciar movimento, rigidez, e – menos atribuídas ao parkinsonismo pelo público leigo – outras manifestações sistêmicas diversas (como perda de expressão facial, perda do olfato, alterações gastrointestinais, e muitas outras). Essas últimas queixas, chamadas de “manifestações não-motoras”, podem anteceder os sinais motores (como tremor e rigidez) em muitos anos, e a falta da compreensão da sintomatologia por não-especialistas, pode atrasar o correto reconhecimento da patologia.


É válido diferenciar os casos de Doença de Parkinson (chamado “Parkinson primário”) e outras condições que se aproximam muito desse quadro clássico (“Parkinson secundário”, ou Parkinson-like e Parkinson-plus), pois pode haver causas diversas, com abordagens diferentes. Por ser uma doença progressiva, é importante que o diagnóstico correto e as opções terapêuticas sejam discutidas o quanto antes. O médico neurologista deve iniciar o tratamento, sendo a participação de fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, e outros profissionais da saúde fundamental. Existe ainda opção de tratamento neurocirúrgico que pode ser realizado com bons resultados na melhora dos sintomas, principalmente motores. Nesse campo, para alguns pacientes, deve ser avaliada a possibilidade do uso de um “marca-passo cerebral”, i.e., a técnica de Estimulação Cerebral Profunda (Deep Brain Stimulation, DBS), que consiste basicamente no implante de eletrodos em estruturas encefálicas (como os núcleos da base), após detido planejamento.

Apesar de não haver cura definitiva e de ser uma condição intricada, que demanda grandes cuidados, existem sim tratamentos eficientes e sedimentados há décadas que proporcionam bem-estar e qualidade de vida aos acometidos. O envolvimento de profissionais qualificados fará toda diferença na caminhada do acometido e de seus familiares.

O que provoca a Doença de Parkinson? 

A resposta mais simples e direta a essa pergunta é bem definida na literatura: Doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa decorrente da perda de neurônios produtoras de dopamina (um neurotransmissor), em uma região chamada mesencéfalo. 

Responder o que desencadeia essa perda celular é bem mais complexo: há uma série de fatores genéticos-familiares e externos-ambientais (epigenéticos) que influenciam o início da doença. É aceito no meio científico que a deposição dos chamados Corpos de Lewy, formados pela proteína alfa-sinucleína (relevantes também em outra neurodegenerativa, a Doença de Alzheimer) em uma local denominado substância negra mesencefálica tem papel fundamental no surgimento e progressão da doença, principalmente no tocante aos sintomas motores. 

O curioso é que diversos estudos recentes estão demonstrando que o surgimento dessa proteína está, de alguma forma, ligado ao sistema digestório – sim, ao intestino! Essas descobertas podem levar, no futuro, ao melhor entendimento da doença, e, consequentemente, ao tratamento e prevenção. 

Como diagnosticar Parkinson?

Existe um aforisma em medicina que diz que a “clínica é soberana” …  passados séculos e séculos de prática médica, mesmo com o desenvolvimento de tecnologias diversas no arsenal diagnóstico, isso não mudou! 

Mesmo hoje existindo alguns poucos exames de imagem que possam (de alguma forma) auxiliar no raciocínio clínico (como Ressonância Magnética com Estudo do Nigrossomos e o chamado TRODAT), o diagnóstico para Doença de Parkinson é embasado sobretudo em aspectos clínicos – inclusive se não forem bem indicados, esses exames podem até “atrapalhar” ao nortear erroneamente a investigação. 

É fundamental a avaliação por um especialista. Existem manifestações clínicas (motoras e não-motoras) que ajudam a diferenciar Doença de Parkinson e outros distúrbios dos movimentos, como Tremor Essencial e Distonias. Claro que, principalmente no início, quando nem todos os sintomas estão presentes, podem ocorrer ambiguidades – estima-se que até 30% dos pacientes inicialmente diagnosticados com Parkinson na verdade tinham condições diversas! – porém o acompanhamento longitudinal/seriado com um profissional bem treinado, de preferência um médico neurologista, é determinante para a correta propedêutica.

Pessoas jovens podem ter Parkinson?

Não é comum em pessoas jovens, mas não é impossível. Menos de 5% dos casos de Doença de Parkinson ocorrem antes dos 40 anos. Quando o quadro clínico se inicia entre os 21 e 40 anos de idade, é dito como “Parkinson de início precoce” (“Young-onset Parkinson”), e quando ocorre antes dos 21 é usado o termo “Parkinson Juvenil”, já havendo casos descritos em doentes com até 5 anos de idade. 

Por se tratar de um evento incomum, deve-se ter em mente um quadro secundário a outras doenças sistêmicas (i.e., é mandatório descartar um “Parkinson secundário”), como Doença de Wilson (um tipo de doença do fígado), quadros infecciosos, abusos de substâncias, e, ainda mais frequente do que na doença primária típica, a influência de mutações genéticas. 

Assim sendo, é imprescindível o reconhecimento e tratamento dessas condições secundárias relacionadas. Por serem pacientes jovens (sem outras comorbidades relacionadas a idade), beneficiam-se ainda mais de equipe multidisciplinar, como fisioterapia e fonoaudiologia. O tratamento, tanto o clínico medicamentoso com neurologista, como o cirúrgico com neurocirurgião, tem peculiaridades que demandam atenção especializada. 

O que pode melhorar com a neurocirurgia para Doença de Parkinson?

Assim como qualquer forma de tratamento, seja ele cirúrgico ou não, o objetivo maior da cirurgia é melhorar sinais e sintomas referidos pela pessoa com Parkinson, melhorando sua qualidade de vida. Porém – também assim como qualquer forma de tratamento – existem limitações, vantagens e desvantagens envolvidas. Esses fatores devem ficar bem claros para paciente e seus familiares, sem margem para dúvidas.

As manifestações clínicas as quais se espera que melhorem com o tratamento cirúrgico são as chamadas “manifestações motoras apendiculares” – a saber: rigidez, tremor e bradicinesia (lentidão dos movimentos) de braços e pernas. Outras manifestações motoras, como a postura encurvada e dificuldade de marcha (caminhar), comumente são muito beneficiadas também – afinal, se os membros ficam mais “soltos”, é natural que o portador possa andar, manipular objetos e se portar como um todo com mais facilidade.

Mais raro de ter melhora, porém, são os chamados sintomas “axiais”, i.e., que dizem respeito ao “centro” do corpo, como falta de mímica facial, dificuldade de fala, e desequilíbrio. Essas manifestações, mesmo quando a cirurgia é corretamente executada, são mais difíceis de obterem desenvolvimento positivo significativo.  

Difícil, mas não impossível. No contexto da realização do DBS (sigla em inglês para Estimulação Cerebral Profunda), sempre frisamos a importância da programação do gerador de impulsos seja realizada por médico especialista (neurologista e neurocirurgião). Através de uma minuciosa combinação de parâmetros, é possível sim obter alguma (geralmente discreta!) melhora também em manifestações mais complexas, como a voz. A qualificação e dedicação do profissional para tanto, são fundamentais… as possibilidades de ajustes são quase infinitas!

É extremamente importante, para que o procedimento seja considerado bem-sucedido, que todas as dúvidas sejam sanadas antes da intervenção, e que as expectativas sejam realistas. Lembre-se: todo procedimento tem limitações, vantagens e desvantagens envolvidas, e a cirurgia para Doença de Parkinson não é exceção.

Estamos a disposição para lhe ajudar da melhor maneira possível, aliando todo rigor médico-científico de qualidade com atendimento ético e humanizado. Tire suas dúvidas e marque sua consulta. Estamos juntos.